terça-feira, 12 de julho de 2011

Conheça um pouco mais!

A economia popular
 
Essas capacidades e competências do mundo popular, excedentes com relação às demandas do mercado e do mundo formal, não permaneceram inativas pelo só fato de as empresas e o Estado não as ocuparem. Tendo sido excluídos tanto da possibilidade de trabalhar quanto da de consumir na economia formal, sendo colocados perante um agudo problema de subsistência, o mundo dos pobres ativou-se economicamente, dando lugar a diversas iniciativas e organizações que configuram a que denominaremos de “economia popular”.
 
Dita economia popular combina recursos e capacidades laborais, tecnológicas, organizativas, e comerciais de caráter tradicional com outras de tipo moderno. O resultado é um inacreditavelmente heterogêneo e variado se multiplicar de atividades orientadas a assegurar a subsistência e a vida cotidiana. Ela opera e se expande procurando os meandros e as oportunidades que acha no mercado: busca aproveitar benefícios e recursos proporcionados pelos serviços e subsídios públicos, insere-se em experiências promovidas por organizações não governamentais, e, inclusive, às vezes, consegue reconstruir relações econômicas baseadas na reciprocidade e a cooperação, que predominavam em formas mais tradicionais de organização econômica.
É notável a variedade de experiências que conformam a economia popular. Assim sendo, não é possível se referir a ela de um modo adequado, em vistas ao nosso propósito de visualizar o caminho que conduz desde ela à economia de solidariedade, se não efetuarmos uma tipologia que possa diferenciar suas diversas manifestações. Com efeito, encontramos nela, ao menos as seguintes formas principais:
 
a)      O trabalho por conta própria de inúmeros trabalhadores independentes, os que produzem bens, prestam serviços ou comercializam em pequena escala nas casas, ruas, praças, meios de transporte urbano, férias populares e outros lugares de aglomeração urbana. Uma pesquisa realizada no Chile, sobre estes trabalhadores autônomos, identificou mais de quatrocentos “ofícios” diferentes, exercidos informalmente.
b)      As microempresas familiares, unipessoais ou de dois ou três sócios, que elaboram produtos ou comercializam em pequena escala, aproveitando, como local de trabalho, algum quarto da moradia em que habitam ou adjacente a esta. Nos bairros populares das grandes cidades de América latina, o fenômeno da microempresa tem se estendido, a tal ponto, que é normal a existência de, ao menos, uma delas a cada quatro ou cinco moradias.
c)       As organizações econômicas populares, isto é, pequenos grupos ou associações de pessoas ou famílias que unem e gestionam conjuntamente seus escassos recursos para desenvolver, em termos de cooperação e ajuda mútua, atividades geradoras de ingressos e provedoras de bens e serviços que satisfaçam necessidades básicas de trabalho, alimentação, saúde, educação, moradia, etc. Oficinas de trabalho solidário, comitês de moradia, “comprando juntos”, centros de abastecimento comunitário, “construindo juntos”, hortas familiares, programas comunitários de desenvolvimento local, etc. são alguns dos tipos de organizações econômicas populares mais difundidas.* 
 
Luis Razeto M.
(Del libro Los Caminos de la Economía de Solidaridad)
Traducción de Claudio Barría Mancilla.

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