quinta-feira, 2 de maio de 2013

'Falta de crédito desafia a economia solidária', diz Paul Singer

O economista Paul Singer avalia que os desafios enfrentados pela economia solidária atualmente são permanentes, de capital, e estruturais. “As cooperativas são pobres e não têm capital próprio e precisam de crédito até que possam gerar sua própria renda.”, disse, em entrevista após palestra que teve como tema “Sindicalismo e Economia Solidária”, realizada no dia 26 de abril, na Escola de Ciências do Trabalho do Dieese, em São Paulo.

Singer está à frente da Secretaria Nacional de Economia Solidária - ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) -, que existe desde 2003 e tem o objetivo de fomentar atividades de apoio à economia solidária. “Estamos desenvolvendo um sistema de finanças solidárias sobre a forma de cooperativas de crédito, e fundos rotativos, que são grupos de famílias que juntam sua poupança para investir em economia solidária e em bancos comunitários”, contou.

 Os bancos comunitários são associativos e de propriedade das comunidades de determinados municípios, e também são responsáveis por sua gestão, voltados para a geração de renda que promova a economia solidária. Enquadram-se neste ramo da economia solidária atividades organizadas sob a forma de autogestão, que procura a valorização da ação humana conjunta. A economia solidária nasceu como resposta ao capitalismo industrial, que se firmou como modo de produção hegemônico depois da Revolução Industrial do século 18, e implica reversão da lógica capitalista de exploração da mão de obra e dos recursos naturais, explica o professor.

 “A economia solidária é resultado do desespero dos trabalhadores que foram arruinados pelas inovações técnicas da Revolução Industrial. As pessoas estavam desempregadas. Juntas, suas chances eram maiores. A economia solidária foi o modo de sobrevivência encontrado por elas.” Segundo Singer, há 103 bancos comunitários no país, que “irão se multiplicar”.

O sistema de produção agrícola dos assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por meio da agricultura camponesa familiar – que produz alimentos livres de agrotóxicos – e a experiência de 67 empresas do país recuperadas da falência e assumidas por trabalhadores de forma autogestionária são apontadas como experiências concretas de funcionamento exitoso da economia solidária pelo professor.

 “Com o cooperativismo resolvemos a questão imposta pela Revolução Industrial, que colocava os trabalhadores para lidar com meios de produção que não eram seus”, explica. A democratização econômica que se dá com a economia solidária, de acordo com Singer, segue na lógica de que o capital é propriedade coletiva de quem lida com ele.

“Com a recuperação de massas falidas há um ganho enorme para toda a sociedade, e os trabalhadores passam a ser donos de seus próprios destinos, eles são emancipados.” A revolução é hoje “A revolução industrial não acabou, vivemos ela hoje.” Para Singer, a “3ª Revolução Industrial” pela qual passa a sociedade contemporânea é caracterizada pelo uso cada vez mais frequente de computadores em atividades econômicas.

“Na robótica, principalmente, o computador foi a ruína de trabalhadores de todo o mundo.” O movimento operário e o sindicalismo foram lembrados por ele como uma reação à invenção de máquinas de energia hidráulica e a vapor no século 18 e 19. “Quem pagou o pato foi o trabalhador. É claro que houve reação, então, surge o movimento operário. A associação de trabalhadores, os sindicatos, nascem junto com o capitalismo industrial.”

 A economia solidária e o sindicalismo têm suas origens na reação dos trabalhadores às precárias condições de trabalho impostas pelo capitalismo industrial, frisou Singer. “O sindicalismo e a economia solidária são irmãos. A economia solidária, o sindicalismo e a democracia são os grandes caminhos para que a felicidade seja um direito humano.”

As informações são da Rede Brasil Atual.

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